sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Colónias da Vera Cruz - notícias da Campanha...

A Campanha foi lançada e muitas actividades encontram-se em funcionamento atualmente!
Primeiramente, a alimentação diária dos animais em sítios fixos, onde eles se concentram, com troca de água e limpeza do local. Alguns animais já estão sendo tratados com antibióticos na rua, pois apresentam infecções de origem bacteriana...dois animais da colónia já foram retirados das ruas (uma fêmea doente e que necessita ser castrada antes de entrar no cio e está em uma FAT e um macho muito doente, o qual está internado em uma clínica veterinária em tratamento...).

Uno, o primeiro gatinho recolhido da colónia, internado desde o dia 26/outubro/2010. Estava com intensa desidratação, hipotermia (temperatura abaixo do normal), constipação há mais de 15 dias, nariz obstruído e respirando pela boca, com estomatite e lesões com pús no lado esquerdo da boca, perdeu todos os incisivos e os caninos inferiores, provavelmente por processos virais e tem o canino superior esquerdo quebrado...hoje já tem o nariz desobstruído, a temperatura normalizada, está se alimentando sozinho e nenhuma secreção nos olhos e nariz.




Esta é a Five, uma gatinha que vivia na rua sozinha, afastada da colónia e que foi resgatada pois
apresentava tosse e também a idade limite para castrar antes do 1º cio (importante não só para evitar uma ninhada na rua, mas para reduzir a probabilidade de tumores futuros). A Five será castrada em novembro e encontra-se em uma FAT.





Agora necessitamos arrecadar dinheiro para pagar os custos veterinários destes animais e a castração dos demais...para tanto, estamos fazendo uma Rifa Solidária!
Os prêmios serão: 1º) uma mala de ganga grande com pregadeira de flor; 2º) uma bolsinha de ganga forrada; e 3º) um estojo de tecido plastificado.
Cada número custa €1, e o sorteio será no dia 12/novembro/2010 (Sorteio nº 46 do Euromilhões). Quem tiver interesse em comprar um número, entre em contacto pelo e-mail projeto.resgate.animal@gmail.com.

Logo organizaremos mais eventos e vendas para arrecadar dinheiro! Ajude se puder!

Equipe Resgate Animal - Aveiro

domingo, 24 de outubro de 2010

Pelo Fim do Confinamento Intensivo Animal!

CAMPANHA

A ARCA Brasil se uniu à Humane Society Internacional, uma respeitada organização sem fins lucrativos que trabalha pelo bem-estar dos animais, com sede em Washington DC, na luta contra algumas das práticas mais cruéis da ‘indústria animal’.

Assim como os cães e os gatos, galinhas, porcos e outros animais usados para a produção de alimentos têm personalidade própria, preferências e curiosidades. E o mais importante: sentem dor, sofrem com o tédio e a frustração e experimentam a alegria.

No Brasil cerca de 80 milhões de galinhas poedeiras e 1.5 milhões de porcas sofrem maus-tratos rotineiros em sistemas de produção estressantes e superlotados praticados pela criação industrial.

As galinhas poedeiras são alojadas em gaiolas de arame, superlotadas, em um sistema conhecido como “gaiolas em bateria”, onde não conseguem esticar as asas, andar ou realizar outros comportamentos naturais. Porcas prenhes são mantidas em baias individuais de metal, chamadas de ‘celas de gestação’, tão pequenas e estreitas que não permitem sequer que se virem. Outros animais também sofrem em sistemas semelhantes.

A HSI e a ARCA Brasil estão contatando os produtores de ovos e de suínos, além de representantes do setor varejista, pedindo-lhes que adotem e implementem padrões mais elevados de bem-estar para os animais. Como um consumidor consciente, sua ajuda é fundamental!

ANIMAIS DE PRODUÇÃO

Bilhões de galinhas, porcos, vacas e outros animais – tais como gansos e vitelas – também sofrem em sistemas semelhantes.

Estes animais, assim como os de companhia e os selvagens, demonstram sentimentos como tédio, frustração e alegria. Além disso, sentem dor, têm personalidade e necessidades comportamentais próprias, são curiosos e únicos.

Mesmo assim, a fazenda está longe de ser aquele lugar bucólico, com animais felizes. Na criação industrial, estes são frequentemente tratados como meras máquinas produtoras de alimentos.

Os animais de produção merecem, assim como todos os outros, o nosso respeito e cuidado.

MUDANÇAS DE HÁBITOS

A cada ano aproximadamente 56 bilhões de animais são criados para o consumo humano no mundo. Esse número não inclui os animais aquáticos que também são sacrificados.

Como um consumidor sensível, uma das atitudes mais eficazes que você pode tomar para ajudar os animais é fazer escolhas inteligentes na hora de comer:

• Ao consumir produtos de origem animal, procure saber a procedência das carnes, ovos ou laticínios. Evite produtos provenientes da indústria animal que adota práticas de confinamento intensivo, tais como o uso de gaiolas em bateria na produção de ovos e celas de gestação para porcas. Opte pelas criações animais em menor escala, que tenham padrões significativos de bem-estar animal, esses produtos devem vir com o selo de certificação de produtos que seguem os regras para o bem-estar animal.

• Considere reduzir o consumo de carnes, ovos, ou laticínios. Reserve um dia da semana para comer apenas verduras. Quando você se sentir confortável com essa mudança, pense em adotar outras atitudes para reduzir ainda mais a ingestão de produtos animais.

• Cada um de nós pode ajudar a prevenir o sofrimento destes animais simplesmente ao optar pela dieta vegetariana.

Seja um porta-voz e exija a certificação dos produtos de origem animal

Lembre-se: como consumidor você tem um grande poder. Ao realizar compras em um supermercado ou freqüentar restaurantes, pergunte se as carnes, ovos e laticínios oferecidos são certificados segundo padrões de bem-estar animal. Em caso negativo, peça ao gerente que procure fornecedores que ofereçam esse tipo de produto.

O Brasil conta com um programa terceirizado de certificação de bem-estar animal administrado pela ECOCERT Brasil. Carnes, ovos e laticínios certificados pela ECOCERT Brasil recebem o selo “Certified Humane”.

FAÇA PARTE!!!

Ajude a ARCA BRASIL a divulgar esta linda Campanha!

- Cadastre-se no site da ARCA BRASIL (http://www.confinamentoanimal.org.br/acoes-para-o-confinamento-de-animais/faca-parte.asp) e receba notícias da Campanha;

- Indique a página a um amigo (http://www.confinamentoanimal.org.br/index.asp)

- Você já tem um site ou um blog? Ajude a divulgar o banner (pode baixar daqui ou do site da ARCA)

- Imprima o folder disponível no site da ARCA BRASIL e espalhe a Campanha! (http://www.confinamentoanimal.org.br/download/Folder%20Consumidor%20PR.pdf)

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Publicado em http://www.confinamentoanimal.org.br/index.asp
Iniciativa ARCA BRASIL: http://www.arcabrasil.org.br/index.htm

Tratamento do câncer veterinário

Entrevista à revista Veterinária Actual

Embora não tenha sido a primeira opção profissional, a medicina veterinária é actualmente a profissão que exerce com paixão. Dedicado à oncologia veterinária, Joaquim Henriques assume-se como pioneiro em Portugal na utilização da terapia fotodinâmica no tratamento de cancro em animais. O seu mais recente projecto é o doutoramento cuja investigação incidirá em linfoma não-Hodgkin no cão, tentando perceber a influência das proteínas no seu desenvolvimento e identificar factores de prognóstico para o tratamento da doença.
Veterinária Actual – A sua primeira opção profissional estava relacionada com a área da biologia e da genética. De que forma estas se ligam com a oncologia veterinária?
Joaquim Henriques – O cancro é das doenças mais estudadas actualmente, e tenta-se perceber-se não só o que se pode aplicar como terapêutica, mas o que provoca a doença e o seu comportamento biológico. Alguns mecanismos genéticos de certos tumores são muito conhecidos, por exemplo, há linfomas que sabemos que têm alterações genéticas ou cromossómicas características, e que algumas dessas alterações também podem estar relacionadas com a infecção por vírus.
No campo terapêutico também já se fala em terapêutica génica, em que se pode conseguir manipular as células e introduzir “promotores de morte”, programando-as para morrer.
Portanto, é fundamental conhecer os mecanismos biológicos da oncogénese e as alterações genéticas associadas para se poder entender e estudar novas abordagens diagnosticas e terapêuticas.

O avanço no desenvolvimento deste tipo de tratamento é semelhante na área humana e na veterinária?
As grandes investigações andam par a par nas duas áreas. Hoje em dia, uma das grandes mais-valias na área da oncologia é o recurso a cães e gatos como modelos naturais, nos quais os tumores surgem de maneira espontânea.
Isto é muito importante, porque estes animais estão sujeitos ao mesmo ambiente e factores de risco que os seres humanos e podem receber o mesmo tipo de terapêutica. Há estudos que apontam para um aumento da probabilidade de desenvolvimento de linfoma, em seis vezes, num gato que viva com um fumador.
Na veterinária temos é menos dinheiro, mas nos EUA o Instituto de Saúde lançou um programa nacional em que dá tanta prioridade à oncologia veterinária como à humana, o que faz com que, entre outras iniciativas, esteja a ser criado um banco de tecidos de tumores animais, porque se sabe que muitos tumores têm comportamento biológico semelhante aos desenvolvidos em pessoas.
Portanto, ao estudarmos factores de risco, alterações genéticas e opções terapêuticas num animal, podemos obter resultados muito mais rápidos do que numa pessoa. Por exemplo, o período de remissão de um linfoma num cão anda à volta dos 12 meses enquanto que numa pessoa rondará os 5 a 6 anos. Desta forma, é possível obter informações sobre a resposta ao tratamento e comportamento biológico num período temporal muito mais curto do que no caso de realização de testes em humanos. Além disso, é possível monitorizar as condições em que o tratamento é feito, porque o cão come sempre a mesma ração, vive praticamente sempre no mesmo ambiente, e sabemos exactamente ao longo desse ano o que o animal fez, enquanto que uma pessoa está sujeita a imensas variáveis e factores externos.

Preocupação com qualidade de vida do animal

No caso dos donos dos animais, também há uma mudança de mentalidade ou continuam a ver o cancro como a morte inevitável do animal, logo que não é necessário recorrer a tratamento que, por vezes, pode ser dispendioso?
Comecei a interessar-me pela oncologia veterinária porque via animais com cancro, na minha prática clínica, cuja opção de tratamento era muito limitada. Há menos de uma década, além da cirurgia, da cortisona e de eventualmente alguns analgésicos, a terapêutica antineoplásica era muito limitada.
Entretanto, fui pesquisando o que se fazia no estrangeiro, entrei em contacto com a minha grande mentora, Jane Dobson, oncologista da Universidade de Cambridge, e sobretudo com o Instituto Português de Oncologia (IPO), em Lisboa. Comecei então a aplicar os tratamentos que estudava e que eram realizados nas pessoas, embora tivesse colegas que me desincentivavam da ideia. O que é certo é que, actualmente, as pessoas estão mais receptivas a este tipo de tratamento para os seus animais e preocupam-se com a sua qualidade de vida.
Uma das perguntas mais frequentes é se o animal vai vomitar, se lhe vai cair o pêlo, se vai ficar debilitado... Raramente chegamos a situações extremas destas, porque os efeitos secundários nos animais não são tão agressivos como nas pessoas e também porque tentamos dar uma componente muito humanizada ao tratamento – o animal não entende porque está a ser submetido a todo aquele processo. No fundo, o que se ambiciona é tratar o animal através de uma boa resposta terapêutica, mas com o mínimo de efeitos secundários.
Saliento também o facto de receber clientes que vêm, propositadamente, de outras zonas do país para virem a uma consulta de oncologia veterinária e para saber o que podem fazer pelo seu animal, que é considerado um membro da família.
Uma situação comum no caso de mulheres com cancro de mama que vêm com a sua gata ou cadela com o mesmo tipo de tumor, é questionarem se o animal vai sofrer os mesmos efeitos secundários do tratamento que as donas realizaram e cujos efeitos secundários ainda recordam.
No fundo, os proprietários têm vindo a procurar mais este tipo de tratamentos. O que ainda acontece é que alguns médicos veterinários ainda não estão muito sensibilizados para a oncologia e para o que é possível fazer pelos animais nestes casos. E, hoje em dia, é possível fazer-se muito por um animal com doença oncológica.

E ainda se confronta muito com o problema da eutanásia?
A eutanásia é uma coisa boa. Como o próprio nome diz é uma “boa morte”. Há é que entender a diferença entre matar e deixar morrer.
Confronto-me frequentemente com a eutanásia, e são animais com os quais há um grande envolvimento afectivo e que estiveram muito tempo a ser tratados e em que esta surge como acto terapêutico final, quando já não há mais nenhuma alternativa terapêutica. Normalmente também alerto os proprietários a não aplicar a eutanásia, só quando o animal já está em agonia. A eutanásia deve ser um recurso a utilizar quando o animal já não tem solução clínica e não quando este está prestes a dar o seu último suspiro.
Hoje em dia também não podemos permitir que um animal tenha dor, porque, tal como nas pessoas, esta pode ser manipulada e controlada, com recurso a diversos fármacos.

Os cuidados paliativos nos animais são realizados em internamento?
Tal como nas pessoas, acredito que o melhor internamento do doente oncológico é em casa. E os proprietários são enfermeiros fantásticos, desde que ensinados.
O maneio da dor consegue-se através de terapia multimodal e, desde que o proprietário saiba reconhecer os sinais de dor e as causas, todos são capazes de fazer o acompanhamento do seu animal, além de terem os meus contactos disponíveis 24 horas por dia.
Outra das terapias que sugiro é a acupunctura, que é muito eficaz para ajudar no controlo da dor do animal.
Factores de risco

Quais os tipos de cancro mais comuns na sua prática clínica?
Varia um pouco, mas os que mais vejo na minha prática clínica são o linfoma, os tumores cutâneos, de mama, do baço e leucemias.
Há ainda os tumores da cavidade oral que também começam a surgir com maior frequência.

O que leva ao aparecimento da doença nos animais?
Hoje sabe-se que há tumores que têm factores de risco particulares e outros para os quais há uma predisposição genética.
No caso dos gatos, estão sempre a lavar-se e todas as toxinas existentes no pêlo entrarem em contacto com a boca e são ingeridas, isto pode ser um factor de risco para o cancro da cavidade oral e do tracto gastrointestinal. Outra coisa comum é o FeLV (vírus da leucemia felina) que contribui para o desenvolvimento de leucemias e linfomas nos gatos.

E no caso do tumor da mama?
Está muito associado nas gatas ao uso de contraceptivos e às injecções abortivas. Na minha prática clínica, quase 90% das gatas que vejo com cancro da mama tomaram pílula de forma indiscriminada ou fizeram injecções abortivas.
No caso de fêmeas recomendo sempre a esterilização, porque, mesmo quando se pensa no custo da intervenção, fica mais barato do que o recurso à pílula ao longo da vida.

Tratamento não invasivo

Quando começou a utilizar a terapia fotodinâmica?
Quando tentava alargar os meus conhecimentos na área da Oncologia, fui ter com a Dr.ª Jane Dobson a Cambridge (Inglaterra) e, um dia, vi-a a realizar uma intervenção com recurso a esta terapia para tratar um gato com carcinoma espino-celular. Achei curioso o facto de a oncologista ter mandado criar o seu próprio dispositivo na Faculdade de Engenharia da Universidade de Cambridge, sendo um tratamento que se baseava na luz para tratar um tipo de cancro que é muito comum nos nossos gatos, mas que em Inglaterra é pouco frequente devido à pouca exposição solar.
De regresso a Portugal, curioso com esta técnica, fui-me informando e soube que esta técnica já era aplicada em humanos no IPO. Resolvi investir e, em vez de comprar um carro novo, comprei o equipamento que me permite realizar este tratamento.

Em que consiste a técnica?
Isto é uma coisa muito antiga, porque em medicina, muitas vezes, não aprendemos nada de novo. Os egípcios já tinham percebido que alguns corantes, em contacto com a pele, matavam parasitas ou até curavam feridas.
Basicamente, é este o princípio, utiliza-se uma porfirina, um derivado da hemoglobina, ou outro fotossensibilizante – aplicado topicamente ou por via endovenosa – que é activado pela luz com determinado comprimento de onda específico e produz moléculas tóxicas de oxigénio que vão danificar e, consequentemente, matar as células cancerígenas.
Esta é uma terapia que tem apresentado resultados bastante promissores em vários tipos de cancro.

Em que tipo de tumores tem utilizado esta técnica?
Aplico-a sobretudo em carcinomas espino-celulares, com resultado muito positivos sem recurso à cirurgia que seria desfigurante para o animal, pois passa muitas vezes por excisão do nariz ou orelhas.

Quais as vantagens?
O tratamento é realizado sobre anestesia geral, mas muito curta – com duração de cerca de 15 minutos –, e é praticamente indolor e não-invasiva, com efeitos secundários mínimos pelo que o animal vai para casa de seguida.

Como “convence” os donos a recorrer a terapias e tecnologias de ponta?
Esta é uma terapia que não é cara e tem a vantagem de não ser invasiva, o que é logo um factor motivador para os donos. Além disso, a taxa de sucesso é bastante elevada, quando a terapêutica é aplicada em casos precoces. Os tumores a irradiar devem ser seleccionados para que se obtenha o máximo proveito terapêutico.

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O Dr. Joaquim Henriques actualmente está a realizar o seu Doutoramento em linfoma do cão, é Docente na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, de Lisboa (Portugal) e é membro das Sociedades Europeias de Medicina Interna e Oncologia Veterinárias.
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Entrevista publicada no blog Oncovet (http://oncovetlx.blogspot.com/) em 16/08/2009.

sábado, 23 de outubro de 2010

Eutanásia em Centro de Controle de Zoonoses...

Olha como a vida é...estou morando em Portugal e procurando informações veterinárias nos sites daqui, encontrei um texto escrito por uma veterinária da minha cidade natal, Porto Alegre (RS, Brasil)...infelizmente, é um texto verídico...e muito triste...felizmente, não pode mais ocorrer porque hoje existe legislação no Brasil proibindo a eutanásia em animais sadios nos CCZs...mas o que não mudou foi o comportamento dos donos dos animais...estes continuam egoístas e insensíveis...a humanidade vai demorar muito a evoluir ainda!


VIDA DE CÃO

por Simone Barcelos Gutkoski

* Simone Barcelos Gutkoski é ex-veterinária do Centro de Zoonoses de Porto Alegre.
Entre suas funções estava a eutanásia (sacrifício) dos animais apreendidos.

"14h32m
“Canil Municipal, bom dia.”
“É daí que recolhem os cães ? Tem um cão com a pata toda comida na frente da minha casa, acho que é bicheira. Apareceu faz uns três dias e não levanta mais... Manda a carrocinha logo, por favor !”
“... o seu pedido é uma emergência e vai ser passado pelo rádio para que o recolhimento do animal seja feito ainda pela manhã.”
“Ai que bom, moça. A gente sofre vendo o bichinho sofrer, né ?! O que é que vocês fazem com eles depois, hein ? Sabão ?”

15h17min
“Central chamando Apreensão!!”
“Apreensão na escuta.”
“Tem um cão atropelado na Rua das Acácias. O animal está na calçada, ao lado do mercado Santos. Parece que está com a pata quebrada.”
“Ok. Entendido.”

17h
“Apreensão chamando Central !!”
“Central na escuta!”
“Avisa a veterinária que tem dois cães para eutanásia.”
“Ok.”

Na seringa, o sangue do animal misturava-se ao líquido letal incolor, espalhando-se como um manto vermelho. Ora era de um vermelho vivo – sangue de cão forte. Ora de uma cor pálida, alaranjanda – cão fraco, doente. Já perdera a conta de quantas já havia feito – talvez umas mil. A do dia era a 34ª - trigésima quarta. Sabia porque anotava cada uma na planilha de eutanásias: canino ou felino; macho ou fêmea; filhote, adulto ou idoso; apreensão, doação, maternidade ou cela coletiva. Gostava de anotar no espaço em branco uma observação: cadela prenhe, tumor de Sticker, cinomose, atropelado. Ajudava a dividir a culpa. Afinal, papel aceita tudo mesmo. Os humanos têm direito a atestado de óbito individualizado, padrão internacional. Os cães não. Seu ritual funerário é o transporte até um aterro sanitário onde decompõem-se junto às sobras da civilização urbana, enriquecendo o denso chorúmen.

A estas alturas já não sabia mais qual a denominação certa para a eliminação dos animais: eutanásia, sacrifício, execução, extermínio ou destruição. A literatura internacional dos livros e papers a deixava mais confusa ainda: elimination, killing, destruction, euthanasia, putting to sleep, putting down. Gostava de dizer eutanásia porque era uma palavra forte, chamava a atenção das pessoas, provocava. Palavra dolorida que já estava incorporada na rotina de trabalho, no seu dia-a-dia. Trabalho que ia muito além do sacrifício braçal. Consumia-lhe horas de brainstorm – monólogos intermináveis para tentar entender a aceitar aquela loucura banalizada – e horas de sono. Às vezes sonhava com uma pilha de cães mortos ou acordava ouvindo latidos. Na hora de fazer eutanásias, procurava ser a melhor possível para que fosse rápido e indolor para o animal. A vestimenta branca que utilizava, avental, gorro, máscara e luvas, além de ser um ritual médico-sanitário, despersonificava-a fazendo-lhe parecer uma máquina de injetar. Na hora de fazer, passava muita coisa pela cabeça. Teorias sobre a morte e a dor surgiam. Sabia que cada animal comprado nos anúncios dos classificados ou nas pets significava uma adoção a menos e uma eutanásia a mais. Na hora de fazer, sentia raiva das pessoas. Dos donos que entregavam os animais porque estavam velhos. Das pessoas que abandonavam na rua animais que tiveram uma casa, vasilha com água limpa e ração. O padrão racial não era impedimento para que os mesmos fossem descartados pelos donos no Canil Municipal – posto de entrega voluntária dos animais não mais desejados. Poodles branquinhos e cinzas, cocker caramelo, fila tigrado, rotweiller, pastor, husky e até akita ! Se não fossem adotados, em poucos dias adoeciam pelo ambiente infecto e pela depressão que os acometia. Alguns donos diziam: “ele apareceu lá em casa anteontem”. Ia ver, era um cão bem tratado, pêlo brilhoso e abanava a cauda para o dono mentiroso. Os sinais caninos não mentem. Outros donos confessavam: “comprei ele, mas não deu certo. Ele late muito e morde o sofá.” Para conveniência e praticidade dos humanos, as teorias comportamentais caninas e felinas eram ignoradas ou ridicularizadas. No cárcere canino, cada cão era uma história de vida a ser eliminada com uma injeção instantânea. Só nas celas coletivas, mais de 200 detentos caninos aguardando – sem saber – o dia em que partiriam para outra esfera. Sim, deveria existir no além do além um mundo menos cruel.

Uma das que mais lhe marcara foi a de um cãozinho atropelado. Era sexta-feira e como restavam pedidos de urgências não atendidos, fez-se um plantão noturno. Anoiteceu e na espera do veículo chegar, pensava nas tarefas domésticas. O tempo não passava e o estômago lhe doía pela fome. Já havia preparado todo o material: seringas, anestésicos, tranqüilizantes, mordaças. Quando a pick-up chegou, viu o animal no fundo da gaiola. Encolhido em sua dor, manifestava sua agonia através de um choro que parecia de gente. Teve vontade de gritar, sair correndo e levá-lo para um hospital. Mas as circunstâncias pediam outra atitude. Eu = boa; Tanathos – morte: morte boa. Já havia aprendido que para muitos animais a morte é a cura para a dor.

Naquela tarde, ainda aguardava a pick-up trazer dois cães para eutanásia. Já passava das cinco horas quando acompanhou o atropelado ser retirado da gaiola. O que de pior ainda poderia acontecer ao animal depois de ter sido alvo de um ser dito racional que fez de seu carro uma extensão do seu corpo e fúria ? E ser transportado ferido no camburão com outros caninos apreendidos, classificados como perigosos e ameaçadores à saúde da coletividade ? Ao entrar na sala de execução, o animal viu os cães mortos no chão, empilhados. Estava atento ao ambiente estranho, percebido pelos sons e cheiros. O sangue e os excrementos na mesa ao lado eram o registro da vítima anterior: cadela idosa, medo e dor. Sinais da comunicação canina. “Será que ela foi atropelada como eu ?”, deve ter pensado. Já com a boca devidamente amordaçada pelo funcionário, observava com os olhos assustados uma moça que vinha em sua direção. Sentiu uma picada no glúteo e começara a adormecer.

Circular entre os cadáveres e os seus excrementos, o cheiro fétido do ambiente e os latidos ensurdecedores exigiam-lhe um esforço em dobro. Não eram suficientes para tirar a sua concentração. Enquanto colocava o álcool iodado que ia se espalhando nos pêlos da pata dianteira até tocar a pele, a veterinária notou que o cão possuía no pescoço um sinal de sua desconhecida história: uma coleira de couro encardida. Os carrapatos minúsculos que circulavam entre os pêlos, eram os atores secundários da saga canina. Apertou-lhe a pata como um pedido de desculpa e um sinal de despedida. Os auxiliares aguardavam atentos o momento esperado. Garrote feito, veia saltada – punção certeira. Sentia perfeitamente a agulha perfurar o vaso. O sangue veio bem volumoso. Injetou devagar o líquido, enquanto observava o animal desfalecer. Em poucos instantes, que mais pareciam uma eternidade, o ser canino transformava-se em cadáver... Constatou a ausência de reflexo ocular e de batimentos cardíacos. Óbito confirmado. Dentro do avental branco, uma criatura anestesiada e dessensibilizada. Sentia que ao matar, também morria. Acondicionava a seringa utilizada no descartex amarelo. Mas onde despejar aquele sentimento de culpa, frustração e tristeza ? Descobrira que existe um tipo de lágrima que escorre por dentro, acumulando-se nos interstícios do corpo.

Enquanto percebia sua cervical dura e os dentes cerrados, anotava na planilha de eutanásias: cão macho, adulto, atropelado com fratura no membro posterior esquerdo, posterior insensível. Queria escrever algo mais para individualizar e humanizar o seu procedimento, mas faltava-lhe a palavra. Não sabia que o cão sacrificado um dia tivera um dono e um nome: era chamado por Valente."

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Fonte: http://arcadenoe.sapo.pt/forum/viewtopic.php?t=10908&start=0&postdays=0&postorder=asc&highlight=

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Campanha de Protecção de Colónias de Animais de Rua em Aveiro

Agora sim estamos lançando a nossa Campanha: "Colónias da Vera Cruz - Protecção de Animais de Rua"!

Divulgue!

domingo, 17 de outubro de 2010

Gestão de colónias de gatos em Aveiro (Portugal)

Um problema mundial e crescente são as colônias de gatos urbanos, que multiplicam-se exponencialmente apesar da grande mortalidade associada, perturbam os "vizinhos", pois entram nas casas, sobem nos carros, sujam a rua, etc., além de serem considerados focos de doenças...estas colônias são formadas principalmente por gatos abandonados pelos donos, quando crescem e se tornam "indesejáveis", ou quando a sua gata fêmea não castrada e com acesso livre a rua aparece "premiada", ou seja, grávida de filhotes indesejados pelos humanos...neste caso, pouco tempo depois que os bebês nascem, os humanos os largam em uma via pública para que "morram longe dos seus olhos" ou que "alguém adote" e assuma a responsabilidade...além dos sobreviventes do abandono, existe um número crescente de gatos "ferais" (animais nascidos na rua e com características de comportamento selvagem, não domesticáveis...) nas colônias, o que dificulta muito a manipulação e o gerenciamento destas.

Visando iniciar um projeto piloto em uma freguesia de Aveiro (Vera Cruz), o Projeto Resgate Animal irá propor a comunidade local uma campanha de gerenciamento de uma colônia de gatos bastante conhecida pelos moradores e frequentadores locais, vista com "maus olhos" pela maioria, mas com compaixão por outros...convidamos as pessoas que tem uma postura de "cidadão ativo" na sociedade aveirense a se juntarem a esta idéia, que não somente irá beneficiar os animais de rua, mas até mesmo os "antipatizantes" dos gatos, visto que tem como maior objectivo reduzir a quantidade de gatos na rua e oferecer um espaço para sua organização e sobrevivência digna!


Agradecemos desde já a todos os voluntários e a todas as pessoas que se preocupam com uma vida melhor para todos os seres vivos!


Equipe do Projeto Resgate Animal